Durante quase 3 anos Pedro foi filho único.
Habitou sem outra criança a casa nas dunas, deambulou sem sombra no jardim, percorreu só o caminho entre a praia e o pinhal e fez das rochas o seu lugar, sempre no singular. 
Pedro, menino das rochas, ainda que fascinado pela força e inquietude do mar, pouco se arriscava na água salgada.  
Numa manhã que imaginou como as outras, Pedro deixou a sua condição de único filho. Nascia Ana, menina do mar.
Pedro, irmão mais velho, ensinou a Ana tudo o que sabia do seu mundo das rochas, da areia, das dunas, do pinhal. Enquanto ensinava, Pedro aprendia tanto sobre o outro mundo para lá da rebentação. Pedro e Ana no plural, no balanço das ondas que vão e que vêm, dançando abraçados na fronteira de um e de outro lugar.
Numa manhã que nunca imaginou possível, Pedro perdeu Ana para um mar a que não se podia impor. Afastados pela primeira vez, Pedro percebia que maior do que o medo que o mar lhe causava, era o vazio pela sua ausência. Afastados pela primeira vez, novamente só, Pedro teve tempo para pensar.
Escolheu deixar-se ir.
Escolheu agarrar-se a Ana.

No mar.
Do lado de lá da rebentação.

Por ocasião do centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, inspirado no seu livro “a menina do mar”.

Livro com as dimensões de 16.5cm x 16.5cm e 56 páginas.


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